24.10.08

A Juventude como Património da Humanidade

A Sandra Oliveira representou o grupo de Jovens Mediadores Sociais no Colóquio Europeu dos Intervenientes Sociais na Juventude, que decorreu na cidade de Joué-lès-Tours (França), de 1 a 4 de Outubro de 2008. Tendo por base esta experiência, a Sandra decidiu elaborar o post que se segue:

Programa do Colóquio Europeu dos Intervenientes Sociais na Juventude

Quarta-feira, 2008/10/1
· Colóquio de abertura com o Presidente do Comité de Encontro entre Países, Joel Terrier
· Conferência de François Marty referente à questão da “adolescência como património da humanidade”
· Conferência de Bernadette Vergnaud referente à Política Europeia sobre a Juventude
· Apresentação de todos os Países Reunidos: situação geográfica, características culturais e intervenção social na adolescência
Joue Les Tours (França)
Ogre (Letónia)
Citta Di Castello (Itália)
East Ayshire (Escócia)
Santa Maria da Feira (Portugal)

Quinta-feira, 2008/10/2
· Apresentação das práticas de trabalho social específicas da Escócia
· Conferência sobre o trabalho de rua realizado em Joue Les Tours por Sylvie Tur (ir ao encontro dos jovens nos seus espaços de desenvolvimento e socialização é uma tarefa particularmente difícil e particular de serviços especializados)
· Conferência sobre a vida dos sectores sociais (características, objectivos e linhas de actuação) em Joue Les Tours

Sexta-feira, 2008/10/3
· Apresentação das práticas culturais e das actividades realizadas no âmbito do trabalho social
· Dinamização da primeira fase do Teatro Fórum, Jogos de aquecimento (embora o objectivo fosse uma primeira formação básica, mas completa)

Sábado, 2008/10/4
· Sumário da apresentação do trabalho dos 4 países
· Conferência de Tony Lachoucine sobre a Política Europeia para a Juventude

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A Juventude como Património da Humanidade

O propósito deste curto texto não é certamente obrigar-vos a ler uma declaração de sabedoria longa e enfadonha, mas sim partilhar convosco o que a adolescência pode representar para muitos, mas também o que pode significar somente para alguns.
Comecemos sobre o que representa para a maioria do Todo da Humanidade e sobretudo para aqueles que de alguma forma definem as linhas condutoras do caminho comum a ser palmilhado pelos jovens. A adolescência é, então, um período de metamorfose em que todos nós transitamos de patinhos feios para belos cisnes imbuídos de características e de trajectos de vida particulares que nos distinguem do Todo e nos possibilitam a construção de uma personalidade própria e referente ao Eu. Durante este período, somos marcados pela maturação biológica, psicológica, cultural e social e enveredamos num processo socializador que nos vai dando pistas para traçar a figura do tal Eu. Amedrontados pelas mudanças, lutamos pela excitação da novidade e nesta onda dicotómica libertámo-nos dos pais, começamos a ouvir a nossa própria cabeça em detrimento do poder que outrora os Outros tinham sobre nós, reconhecemos os desafios que nos impulsionam como pessoas e perseguimo-los até ao infinito e, principalmente, encontramos o lugar do Mundo que nos pertence e ocupámo-lo como se não houvesse amanhã, na pressa que nos possa fugir.
O processo de desenvolvimento e procura de cada jovem permite a construção da identidade de uma sociedade, de uma comunidade, de um país, de um continente, de um planeta, enfim, dum mundo que é herança de todos nós. E, desta forma, se a adolescência é o período de construção de um rosto da Humanidade, pertence-lhe e é aquilo que ela possui de mais valioso e eterno.
O reconhecimento da importância deste período de desenvolvimento para a evolução da espécie humana e de todas as suas conquistas está patente no prolongamento desta etapa desenvolvimental e nas políticas sociais que se têm desenvolvido com vista a protecção e o respeito pelo jovem. Prevenir para bem crescer, remediar para não continuar a perder-se. Este é o lema que trespassa as políticas sociais referentes à adolescência e que procura evitar que os jovens sigam caminhos prejudiciais para o desempenho da sua tarefa em prol de si mesmo e de todos os que o circundam, ou, em casos menos animadores, pretende colmatar as falhas e apresentar aos jovens não a melhor direcção, mas a panóplia de direcções que o revestem. A adolescência torna-se, então, uma conquista cultural, um aspecto particular do desenvolvimento histórico e individual. Voa de outros para nós em busca dos outros que se seguirão.
Numa segunda parte e, na minha opinião mais relevante, procurarei deixar umas linhas de reflexão acerca do que é a adolescência para alguns do Todo que somos Nós.
Como Mediadora Social tenho oportunidade de perceber que o processo de crescimento na adolescência é bastante díspar para os diferentes jovens e que as experiências a que estão expostos não são, muitas vezes, as mais indicadas. Crescer todos crescemos, crescer bem é um privilégio de alguns que deixa marcas para todo o percurso de construção.
Tendencialmente aqueles que vivem experiências mais avassaladoras e traumáticas vêem-se como incapazes, menos inteligentes, impossibilitados de fazer coisas espantosas e não merecedores de determinadas hipóteses. Julgam-se mais fracos, quando, na verdade, são os que melhor podem mostrar ao mundo como crescer, apesar de muito difícil, é o que impulsiona o Homem a viver. Crescemos todos os dias, a todas as horas e em todas as etapas da nossas vida, mas o crescer da adolescência está repleto de energia, novidade, persistência e capacidades múltiplas de mudar o mundo, mudar o espaço que nos rodeia e reescrever o que muitos chamam de destino.
O abandono, o álcool, a droga, a prostituição, os abusos mais variados substituem, por vezes, o amor, o apoio e a presença familiar, os jogos, os livros, os desenhos animados, os concertos, as peças de teatro, as actividades desportivas e culturais que devem preencher a vida de qualquer jovem adolescente. Mas somos muitos os que estamos aqui para tentar que esta substituição se esbata e tenha o mínimo de repercussões possíveis no desenvolvimento daqueles que vão liderar a força da nossa Humanidade. Obviamente que ninguém que trabalhe no âmbito do trabalho social e que tenha já bebido uma dose de realidade acredita que vai fazer desaparecer todos estes problemas sociais ou destruir todas as más experiências a eles associados. Acreditamos sim que podemos abrir novas portas aos jovens até então encobertas pelo sofrimento e pela escuridão que rodeia muitas vezes as suas vidas, acreditamos que estes, com a devida ajuda, podem recuperar a auto-estima e podem libertar-se das influências do seu meio e dos poços em que possam ter caído, acreditamos que eles podem traçar a sua própria história e que podem ser tudo o que sonharam com o devido esforço, acreditamos que cada um pode salvar um outro, acreditamos que em conjunto poderão sobreviver às adversidades da vida e mostrar a todos aqueles aos quais a vida sorriu que também têm um futuro a desenhar, e, acima de todo, acreditamos que podem acreditar. E tu? Em que acreditas?
Não se esqueçam que as crenças condicionam a nossa vida ao guiarem as nossas acções e batalhas. E se acreditarmos que podemos mudar o mundo dia-a-dia, pessoa a pessoa, comunidade a comunidade, conseguiremos, certamente, mudar mundo a mundo e construir a Humanidade do Amanhã. Acredita e luta para que os outros acreditem também! :D
texto de: Sandra Oliveira (JMS)